*Fisioterapia!*

Durante nossa vida de estudantes, somos condicionados a escolher uma profissão. Esta “pressão” começa enquanto ainda somos crianças, quando chega aquele “tio” e pergunta: “E aí, o que você quer ser quando crescer?”
Então, aos 17 anos você se depara com uma das maiores decisões de sua vida, e sempre precisa ser logo, pois, a inscrição para o vestibular chega, uma futura faculdade deve ser planejada, enfim, parece que o mundo pesa sobre nossas costas.
No decorrer dos meus 20 anos, sempre disse com convicção desde criança, que eu seria médica, e realmente tinha certeza disso. Mas, com o passar do tempo, minhas opções variaram entre jornalismo, publicidade, letras, farmácia, odontologia, biologia, enfermagem e, caí em medicina novamente.
Ora, grande ironia do destino!
Hoje sou acadêmica do 6º período do curso de FISIOTERAPIA.
Acho que me dei bem, até porque, me apaixonei pela profissão.
Contudo, este ano me coloquei em processo de reflexão quando a professora de pediatria (que por sinal é uma profissional admirável), no primeiro dia de aula deste período chamou pelo meu nome durante a “chamada”, me olhou e disse: “Paola, mas por que Fisioterapia? Está satisfeita com o curso?”
Confesso que na hora fiquei meio sem resposta, porque nunca havia parado para pensar nisso, mas sempre tive a convicção de que este é o meu dom.
Por isso, parei para analisar e simplesmente agradeci a Deus, afinal, ao contrário de tantos jovens que iniciam várias faculdades e não “se encontram”, eu fui uma privilegiada, pois, “me encontrei” na primeira tentativa. Na verdade, não sei dizer o que me fez optar por fisioterapia, mas hoje me sinto plena por amar o que eu faço.
Como esta mesma professora diz: “SOMOS TRABALHADORES BRAÇAIS”, e realmente concordo com ela. Nós “carregamos” braços, pernas, alongamos, fortalecemos, tiramos pacientes do leito, tiramos pacientes da cadeira de rodas, ofertamos oxigênio quando necessário, reexpandimos pulmões com as mãos...fazemos uma infinidade de coisas que nem eu imaginava quão ampla seria a profissão.
Além de tudo isso, nós damos esperanças, aliviamos dores, ofertamos carinho, ofertamos sorrisos aos que tem dor e, muitas vezes somos o estímulo que faz pernas voltarem a caminhar, mãos voltarem a segurar, rostos voltarem a se expressar, pulmões voltarem a respirar...Proporcionamos independência!
Ser fisioterapeuta vai além de ser profissional, é preciso ser muito mais humano, como por exemplo ontem quando fui avaliar uma pacientinha de 1 ano e pouquinho com microcefalia e, lesão de plexo braquial (inervação do braço) simplesmente pelo fato de ter sido jogada contra a parede pelo próprio pai aos 2 meses de vida. Na hora que a responsável me contou isso, me veio à cabeça todas as vezes que nossos professores disseram que sempre precisávamos ter equilíbrio diante das situações. Não sei qual foi minha expressão diante da notíca, mas sei que fiquei sem palavras e engoli o choro pensando: Por que isso acontece hein Deus?
Muitas vezes sou criticada por tanta dedicação à faculdade, mas o argumento que uso é de que preciso estudar, pois, não posso errar com as pessoas, talvez não haja conserto. Acho justo pensar que como não admitiria que errassem com minha família, não me permito errar com a família dos outros.
Hoje, entendo quando ainda estava no 3º período e, o professor de patologia disse:
“Trabalhar na área de saúde não é escolher uma profissão, é fazer uma opção de vida.”
Na época achei exagero, besteira, mas agora entendo perfeitamente. Noto colegas ao meu redor que ainda não optaram, mas me sinto feliz porque apesar de tudo, tenho certeza de que já optei.
Falar e trabalhar com fisioterapia me custa tempo, dedicação, paciência, noites em claro, lágrimas, ansiedade...mas proporciona prazer.

Minha vida acadêmica me faz permanecer acordada pelo menos 18 horas por dia de segunda à sexta. O cansaço bate, tanto físico quanto emocional, pois, às vezes tenho a impressão de que não vou conseguir, mas tento sempre.
Então noto que nada me estimularia tanto senão o amor. Parece utópico, mas é verdade. Ainda ressalto que nenhum estágio, de nenhuma faculdade deveria ser remunerado, como é o caso da nossa profissão, pois, nada manteria um acadêmico nela além do amor e, só aí se pode ter a certeza de estar ou não na profissão certa.
Fisioterapia hoje é meu maior e mais próximo sonho!
O fato de me imaginar fisioterapeuta é motivo de alegria e lágrimas nos olhos (sou manteiga derretida mesmo...rs).
Esses dias, uma senhora de 70 e poucos anos que tenho como paciente, ao final da sessão olhou-me e disse: “Eu adorei você! Quando se formar você será uma ótima fisioterapeuta!”
Ganhei minha semana quando ouvi aquilo.
Por este sonho eu não durmo, não viajo, não estou em todos os lugares que meus amigos estão...
Por este sonho me tornei mais ausente entre os que amo...
Por este sonho me mantenho em pé, mesmo quando a vontade é dormir uma semana toda...
Mas este sonho também me mantém brilho nos olhos e sorriso nos lábios.