segunda-feira, 30 de maio de 2011

Minha avó materna está doente e com pouca memória, mas do meu avô ela não esquece. Durante a maior parte do dia ele fica deitado ao lado dela, segurando em sua mão. Mesmo muitas vezes ela sendo grossa, não lembrando direito quem ele é, ainda assim ele fica lá, devotando seu amor como no início dos 60 anos de casados.

Por hora, esta é a referência mais concreta de amor verdadeiro que já pude compartilhar.

Meus olhos estão cheios de lágrimas ao compartilhar isso com vcs, mas não importa se ela lembra da gente, a questão é que nós lembramos dela como antes. Lembro dela quando preparava minha mamadeira, me pegava no colo, passava seu batom num tom meio rosado e passava blush nas bochechas antes de sair de casa.

Hoje o batom e o blush já não fazem mais parte de seu cotidiano, mas sua essência está lá, ou talvez aqui, bem viva dentro da gente.

Lembro quando ela comprava chocolate pra nós, levava os netos para jantar fora aos sábados e fazia os almoços de domingo.

Cada ato deste me faz crer que o amor ainda está nos detalhes, nas coisas pequenas. Pena lembrarmos com tal intensidade apenas quando já se foram.

Não sei se ela lembrará de mim na próxima visita, mas tenho certeza de que não a esquecerei.

________________________________________

"Se o meu andar é hesitante e as minhas mãos trémulas, ampara-me. Se a minha audição não é boa, e tenho de me esforçar para ouvir o que me dizes, procura entender-me. Se a minha visão é imperfeita e o meu entendimento escasso, ajuda-me com paciência. Se minha mão treme e derrubo comida na mesa ou no chão, por favor, não te irrites, tentei fazer o que pude. Se me encontrares na rua, não faças de conta que não me viste. Pára para conversar comigo. Sinto-me só. Se, na tua sensibilidade, me vires triste e só, simplesmente partilha comigo um sorriso e sê solidário. Se te contei pela terceira vez a mesma história num só dia, não me repreendas, simplesmente ouve-me. Se me comporto como uma criança, cerca-me de carinho. Se estou doente e sou um peso, não me abandones. Se estou com medo da morte e tento negá-la, por favor, ajuda-me na preparação para o adeus"

2 comentários:

Um brasileiro disse...

Oi. Tudo blz? Estive por aqui e gostei. Muito legal e bonito. Nossos entes queridos, nunca esquecemos, mesmo que por um motivo assim. Apareça por lá. Beijos e abraços.

Anônimo disse...

Estremamente sencivel e adoravel! estou admirado com sua forma de sentir e escrever, é leve e continuo... desejo toda sorte de maravilhas a vc e a seus avós...
bjss